Rolê aleatório: Destaque em título do Paulistão e com passagens por Vasco e Cruzeiro, Rafael Silva comenta momento no futebol boliviano
(Foto/Divulgação: Marcelo Sadio/CR Vasco) |
Jogador de nome ainda marcante e bem conhecido por quem acompanha o futebol brasileiro, o atacante Rafael Silva não aparece há certo tempo nos principais sites esportivos do país. Colecionador de episódios, o ex-vascaíno mudou o rumo de sua carreira de um modo um tanto quanto radical. Baiano de Feira de Santana, foi rodar o mundo, girar com a bola por cidades e centros bem longes daqui. Após passagens breves por Bragantino e Guarani em 2017, Rafael rumou à China em 2018, fez gols. Rumou à Indonésia em 2019, fez gols. E neste ano foi parar na Bolívia, convencido pelo ousado Always Ready, equipe de La Paz que, com projeto audacioso, vem desbancando equipes mais conhecidas e brigando por coisas grandes dentro da Liga local.
Revelado na Portuguesa e com tráfego de mercado restrito a times de São Paulo, Rafael Silva viu sua vida mudar no Paulistão de 2014 ao ser o grande nome do imprevisível Ituano, campeão Estadual e demolidor de gigantes naquele ano. O feitos individuais, ao meio de um coletivo vencedor, deram ao atacante a oportunidade de vestir e novamente fazer história, dessa vez com a camisa do Vasco. Vivendo um jejum de 13 anos sem vencer o Carioca, o Gigante da Colina contou com gols de Rafael Silva nos jogos tanto de ida quanto volta da final diante do Botafogo, para enfim novamente poder soltar o grito dentro do Maracanã lotado.
"A China é um país que eu gostei demais. As pessoas possuem uma visão distorcida, de um lugar que comem coisas estranhas e essas coisas, mas não é assim. Morava em Dalian, uma cidade muito bonita, conseguíamos achar tudo, como picanha, por exemplo. Havia também os Shoppings, é um local com muitas opções."
Para o baiano, o maior desafio de se adaptar morando fora do país natal está na alimentação, algo que foi facilitado pela ida com a esposa e os filhos. "Solteiro você sofre um pouco, gasta um dinheiro a mais, come em Shopping, restaurante, tem que está andando. Mas quando se vai com a família se alimenta em casa, e com as mesmas comidas que são feitas no Brasil".
Não existe isso de comer cachorro. Vivia perguntando sobre, me aprofundei mesmo. As pessoas têm até certa vergonha disso. Mas claro; existem alguns vilarejos que mantém isso, como uma espécie de tradição.Os bons números na China abriram o leque do mercado asiático para Rafael Silva. Diferente de quando foi para os Emirados Árabes e voltou, o jogador deixou a China, mas continuou no Continente, para atuar na Indonésia. Dentro das quatro linhas, foi o grande nome do Barito Putera, com 14 gols em 28 partidas. Fora delas, encontrou mais dificuldades.
"Mercado asiático é excelente, gostei bastante de atuar por lá. Tive bons números. A Indonésia, especificamente, é um país mais peculiar, totalmente islâmico e com seus costumes pouco diferentes para nós. Na folga eu me reunia com os outros brasileiros do grupo, eram três. Fazíamos nosso churrasco, algo mais tranquilo, dentro de nosso próprio condomínio. Em relação a China, gostei menos".
Os gols de Rafael Silva salvaram o Barito Putera do rebaixamento na Indonésia. (Foto: Instagram oficial) |
É de fato diferente ver Rafael Silva jogando no futebol boliviano. Ainda mais com suas passagens de sucesso em mercados bastante emergentes. A reposta para tornar seu rolê longe do Brasil ainda mais aleatório, está, segundo ele, no projeto ambicioso do Always Ready, que traça metas para ganhar a Liga Boliviana e começar a navegar de forma frequente no mar de competições internacionais.
"O projeto e a proposta que o Always me sugeriu conseguiu atrair bastante. É um clube que está investindo muito para ir à Libertadores. Montaram um time para ser campeão da Liga Boliviana, já esteve recentemente na Sul-Americana. A ideia de ser campeão aqui e disputar uma Libertadores me convenceram bastante."
Temos possibilidade de ser o segundo Clube mais alto do mundo em nível de altitude. Os caras podem vir para cá em uma Libertadores e sentirem muita dificuldade de nos enfrentar.A explicação de Rafael Silva é bastante condizente com a realidade. Há dois anos, o Always Ready estava na Segunda Divisão. Quando subiu, já chegou batendo de frente com os gigantes do país e mostrando força para repetir as façanhas dos anos 50, quando foi bicampeão boliviano. Atual vice-líder do Apertura, o clube reforçou o elenco com várias referências locais, entre jogadores da Seleção e estrangeiros que já haviam mandado bem dentro da Liga por outras equipes.
"Em relação ao Brasil, claro que o nível técnico é abaixo. Mas é mais tranquilo na logística, por ser um país menor, as viagens são mais curtas, no entanto é jogo em cima de jogo também. O que mais me surpreendeu de diferente foi a pressão. Principalmente quando jogamos em casa. Criou-se um costume de sempre golear, fazer três, quatro gols e quando vencemos por placares mais magros acabamos sendo cobrados. Bem diferente daí, onde o que importa dentro do campeonato nacional é o resultado".
Novamente falando sobre o aspecto social, o atacante mostra-se muito feliz com a vida em La Paz, elogiando bastante a cidade e contando as dificuldades que sentiu nos primeiros dias e jogos com a altitude acima do nível do mar.
"Curtindo bastante, me surpreendi positivamente. Pensei que era uma cidade mais parada, mas onde moramos aqui, na zona sul, há muitas coisas para fazer. Muitos restaurantes, bem diferente da Ásia. E o mercado está cada vez mais abertos para brasileiros, visibilidade, campeonatos sul-americanos, creio que seja uma grande oportunidade para jogadores de nosso país".
Te falar: eu não imaginava que fosse assim. Agora já me acostumei, mas no primeiro dia foi terrível. O cara dar o pique para para puxar o ar e não vem nada. Você fica parado tentando por 30, 40 segundos e no futebol não há espaço para isso, tem que está buscando a jogada a todo o instante. - Rafael Silva, sobre a altitude.
Já adaptado ao futebol jogado na Bolívia, Rafael Silva ainda está iniciando sua trajetória no Always Ready. Até o momento, foram nove jogos e três gols. (Foto: Instagram oficcial) |
Falado em todo o planeta, o Convid-19 (Corona Vírus) também gera preocupação na Bolívia. Assim como no Brasil, os Campeonatos foram parados e a ordem é de quarentena geral. Atento a situação, Rafael contou um pouco do clima vivido entre os bolivianos no período da epidemia.
Parou tudo, teve um decreto do governo. É quarentena total por duas semanas. Tudo está fechado, mercados, vendas. O pessoal está levando a sério, a partir das 18h as ruas já estavam vazias. Há poucos casos aqui e creio que como todos no mundo, vamos superar esse momento.Restando um ano de contrato e cheio de planos na Bolívia, Rafael Silva espera contribuir bastante com o projeto do clube, enfatizando o desejo de fazer história sem parar para pensar no futuro. Ciente que tem mercado no futebol brasileiro, hoje aos 29 anos ele sabe que uma hora voltará, mas não faz planos, garantindo muito ainda para dar.
"Tenho um ano de contrato aqui e quero cumprir, fazer parte desse projeto e ser campeão. Não sei como será depois desse problema que assola todo o mundo, mas claro que tenho em mente voltar ao Brasil. Ainda tenho muita lenha para queimar."
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