Rolê aleatório: Ex-Galo, Renan Oliveira joga com plateia de presidente do país e levanta troféus na Lituânia

(Divulgação de foto: Clube Atlético Mineiro)

Revelado no Atlético Mineiro com pompa de esperança para um tempo de vacas mais magras, o meia-atacante Renan Oliveira possui, inegavelmente, o seu nome na história recente do Galo. Para o bem, para o mal, o jogador foi, durante muito tempo, um dos mais falados pela fanático torcida de um dos maiores clubes do país. Com apenas 22 anos, conseguiu fazer mais de 100 jogos, marca considerável e bem difícil para um jovem atleta que surge das divisões de base. Os 27 gols feitos encerram os números que passam longe de serem ruins, mas que reiteram o fato de o futebol nunca ser matemática simples.

Pessoalmente, Renan sente-se satisfeito com o que fez. Lembra do Brasileiro de 2008 e do de 2010, quando, emprestado ao Vitória, teve o retorno solicitado por Dorival Júnior, reapareceu com a camisa alvinegra e fez-se peça fundamental nas últimas 15 rodadas decisivas que livrariam a equipe mineira de um rebaixamento decepcionante. Naquela altura, o time havia investido muito e acabaria, por ironia do destino, vendo o jogador da casa ser decisivo em jogos memoráveis da campanha de recuperação, como na goleada frente ao Flamengo, há três rodadas do fim do Campeonato. 4 a 1, dois gols de Renan Oliveira. Sensação de dever cumprido, mas imaginação de que poderia ter sido melhor se o momento fosse outro.

"Algo diferente com certeza teria acontecido" - Renan Oliveira, sobre se tivesse sido revelado no Atlético nos dias de hoje.
"A realidade é que o futebol mudou muito em relação aos últimos dez anos. Antigamente o Atlético vivia com vários problemas financeiros, maioria dos jogadores eram das categorias de base, não havia a estrutura que há hoje. Nos dias de hoje, acredito que poderia ter sido diferente."

O ciclo no time do impossível acabaria antes do próprio contrato. No caminho, alguns empréstimos. Renan Oliveira deixou de fazer parte dos planos do clube que o formou e tantas vezes foi importante, mas manteve-se em alta no mercado. Coritiba, Goiás, América Mineiro, Avaí, Náutico, Sport, foram algumas das camisas que o meia vestiria e atingiria, em parte delas, sucesso. No América e no Goiás, os melhores momentos, de acordo com o próprio atleta.

"Goiás e América foram momentos especiais na carreira, pois além do individual, também existiram conquistas, o nome foi marcado. No Goiás, um pouco mais marcante, com quantidade maior de partidas, números pessoais e títulos".

Pelo Goiás, Renan atuou 68 vezes, marcou 12 gols, venceu dois estaduais, uma Série B, foi semifinalista da Copa do Brasil e sexto lugar no Brasileirão. (Foto/Reprodução: Goiás EC)

O futebol no Brasil faz reféns. Fora de campo, como torcedores, somos presos pelas bandeiras que resolvemos amar no início de nossas vidas. Condicionamos nossa alegria ao resultado que os onze homens que representam essas bandeiras conseguem dentro das quatro linhas. Esquecemos a racionalidade. Acusamos, reclamamos, ofendemos, amamos demais e odiamos mais ainda. E, de tabela, fazemos quem entra em campo também reféns. E Renan Oliveira virou um. O meio-campista sempre carregou vários esteriótipos pregados pelo público geral. Alguns desrespeitosos e que confrontam sua carreira de títulos e conquistas importantes por times brasileiros e pela Seleção Brasileira, onde foi campeão sul-americano sub-20.

"No começo da minha carreira eu sentia muito mais isso, a cobrança, a pressão, os comentários. Hoje em dia eu tenho uma cabeça bem mais tranquila. Sou focado e dedicado apenas ao trabalho. A idade e a experiência te faz mudar algumas coisas, as atitudes, tudo. Hoje sou bem mais completo profissionalmente. Isso (os esteriótipos) já me incomodaram bastante, hoje não mais. É aquela coisa de uma mentira contada várias vezes. Fica marcado nos torcedores, na imprensa. Me sinto bem tranquilo."

Nascido em Itabira e com o sotaque forte do interior mineiro bem presente, hoje Renan Oliveira está com 30 anos. Deixou de ser uma das promessas mais comentadas no Brasil para se moldar ao status de 'jogador experiente'. O tempo passou e depois de passagens por camisas sempre importantes por aqui, o meia girou com a bola e está hoje no futebol lituano. Destino aleatório que o fez recuperar a alegria de jogar futebol.

"Sempre tive o desejo de jogar no futebol europeu. É o sonho de todos, em comum ao fato de também vestir o manto da Seleção. A oportunidade de atuar aqui na Lituânia surgiu em um momento da minha vida e carreira que considero especial. Deus preparou esse momento para mim e eu estive preparado para o momento, foi o casamento perfeito."

"Tive muitas possibilidades de jogar na Europa quando era mais jovem, no início da carreira. O presidente chegava para mim, me informando da proposta, já falando que havia rejeitado".
Protagonista, chegou chegando. Sendo o grande nome do terceiro título nacional da história do FK Suduva, clube fundado em 1967, ainda no período de associação da Lituânia ao bloco soviético. Com pouco mais de 50 anos, o Suduva só veio conquistar seu primeiro grande troféu em 2007, quando conquistou a Taça local. Foi a semente plantada para a colheita dos dias atuais, sendo o time hegemônico atual, com três títulos seguidos da Liga.

"Confessar que eu não sabia muito sobre o Suduva, mas busquei informação com brasileiros que já haviam passado lá. Quando cheguei, vi que os elogios que haviam me dito eram reais. É um clube muito organizado, vem crescendo dentro do mercado europeu, está chegando nos últimos playoffs para disputar os grandes torneios europeus, como a Champions e a Europa League. Há o presidente, os investidores, e uma torcida muito apaixonada, que lota os estádios e gosta muito do time."

"É uma cidade bem pequena, de interior. Muito segura e tranquila de se viver com a família. Procuro ficar mais em casa por estilo de vida, mas em algumas oportunidades saímos e achamos muitos lugares e pontos incríveis. Fiquei muito surpreendido com o local". - Renan Oliveira, sobre a vida na Lituânia.
Dono de marcas expressivas, cada vez mais o FK Suduva toma conta do futebol lituano. Com grandes goleadas e conquistas de títulos, o time conseguiu chamar a atenção até do presidente do país, que já foi flagrado nas arquibancadas assistindo aos jogos da equipe. O Suduva quase faz história participando da fase de grupos da atual Liga Europa pela primeira vez, chegando a eliminar o favorito Maccabbi Tel Aviv, mas ficando no caminho no que era o último passo, frente ao Ferencváros, após empates em 0 a 0 dentro de casa, e derrota por 4 a 2, na grande Budapeste. Fundada em 1990, a liga possui oito clubes e quatro turnos, além de um chaveamento final entre os seis primeiros para definir o campeão e os dois últimos, determinando o rebaixado.

"Uma das facilidades que tive aqui foi a aceitação do grupo. Gostam demais de jogadores brasileiros e me receberam muito bem. Havia uma expectativa alta e um time bem encaixado, que já era bicampeão. Muito feliz de ter participado logo de início de títulos conseguindo ter números tão bons. É legal demais saber que estou fazendo história aqui no Suduva."

Desde o ano passado na Lituânia, Renan Oliviera conquistou a Liga e a Copa Nacional, sendo decisivo com muitas participação em gols e assistências. (Divulgação: FK Suduva)
Voando em campo, as dificuldades fora dele não deixaram de existir. Tendo passado toda a vida e carreira no Brasil, Renan sofreu com algumas coisas, dentre as quais, a principal estava no idioma. Único brasileiro do elenco, ele acelerou as aulas no inglês para poder se comunicar com os companheiros.

"A língua lituana é um idioma difícil, mas no vestiário praticamente todos os jogadores falam inglês. Então corri para aprender, sabia algumas coisas, mas não de forma perfeita e fluente. Fiz aulas onlines e desde então não parei mais. Com o tempo, fui pegando e as coisas ficaram bem mais fáceis."

"O treinador era do Cazaquistão, muito bom, mas que não falava inglês. Os caras ficavam traduzindo para mim".
Jogando em um país que faz fronteira com a Rússia e a Polônia, mercados mais fortes no futebol, Renan Oliveira não deixou de chamar a atenção. Com proposta do Suduva para ficar por mais três anos, o camisa 8 estuda as opções, já que também chegaram sondagens dos países vizinhos. A ideia, no momento, é cumprir com o contrato que vai até novembro. Na cabeça do meia, a prioridade está em permanecer nos gramados europeus.

"Minha prioridade é seguir na Europa. Tenho contrato até novembro e estou aguardando, pensando com a família. Estamos estudando a melhor situação. O que posso garantir é que estou muito feliz. Fiquei encantado pela cidade e pelo clube, que é muito estruturado. É claro que pensamos sempre em crescer, desenvolver a carreira, mas o projeto do Suduva é de jogar a Champions e creio que darão mais suporte ainda para eu poder seguir aqui."

No momento, Renan Oliveira está em casa, com a família. Mas não deixou de comentar sobre o clima da Lituânia no momento de epidemia do Covid-19, o Corona Vírus.

"Vivi alguns dias lá nesse clima, estão se protegendo bem. Fecharam as entradas por terra, aeroportos. Liberaram todos os jogadores para passarem essa quarentena com os familiares logo no início e quando deixei o país só havia  um caso confirmado. Por essa antecipação que tiveram, estão conseguindo controlar bem, numa situação tranquila que não foi agravada.  Tive a chance de retornar ao Brasil e estamos aqui, bem quietos em casa, aproveitando para matar a saudade e com a certeza de que iremos superar tudo isso para a vida voltar ao normal."


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rolê aleatório: Destaque em título do Paulistão e com passagens por Vasco e Cruzeiro, Rafael Silva comenta momento no futebol boliviano

Vestindo a principal camisa do futebol húngaro, Marquinhos Pedroso conta a experiência de jogar no país de Puskás