Grandes passagens: O reinado de Cissé no Panathinaikos

(Foto/Divulgação: PAO)

Hoje afundado em dívidas e feliz por depois de tantos anos ter enfim brigado por vaga na Europa League, algo pequeno devido ao seu tamanho dentro da Grécia, o Panathinaikos vivia situação bem diferente uma década atrás. Ousado e mostrando-se cheio de grana, os verdes e brancos de Atenas surpreendiam a Europa e desembolsavam mais de 8 milhões de euros na contratação do extrovertido atacante Djibril Cissé. Aos 28 anos de idade, o francês passava longe de viver decadência ou proximidade de final de carreira - algo usual nos dias de hoje quando algum medalhão vai atuar no futebol grego. Antes de desembarcar no Apostolos Nikolaidis, seus dez gols na Premier League fizeram-o peça determinante para o Sunderland não cair de divisão na principal liga do mundo.

Conhecido mundialmente, ainda em forma, decisivo no Campeonato mais badalado do planeta, milhões de euros na compra e em luvas, salário bombástico. Toda essa conjunção acresce ao roteiro inimaginável de uma negociação dessas nos dias atuais do Panathinaikos e da Grécia. Mais cara contratação feita por um time da Super League, a recepção foi calorosa. Festa no aeroporto, festa na porta do CT do Clube. Cissé tornou-se um Rei sem entrar em campo, e prosseguiu com o reinado quando entrou. Em dois anos, quebrou recordes, venceu títulos. Foi tão marcante que conseguiu, de forma improvável, lugar na Copa do Mundo de 2010. Desbancando grandes nomes que atuavam em ligas vistas por todos os mais populares canais de Pay-per-view.

Se os gastos como o de contratar Cissé por cifras tão exorbitantes fizeram o Panathinaikos entrar em situação de quase falência e com uma série de punições dentro de seu próprio Campeonato podem ser revistos de modo mais racional, a verdade é que a torcida do Trevo, uma das mais fanáticas da Europa, não se importa - mesmo ainda sofrendo constantemente com as sequelas. Vendo o rival ser pentacampeão consecutivamente, foi com o talento do francês que o clube pôs fim ao ciclo e deixou seu maior rival a ver navios.

28 gols em 41 jogos, artilharia do campeonato com dez de vantagem ao vice-artilheiro. Autor de mais da metade dos gols feitos pelo time na Liga - fez 23 enquanto o Pana marcou 54 na campanha. Fez dupla letal com o argentino também ex-Liverpool Sebastian Leto. Naquele time, Cissé era dono do meio para frente. Do meio para atrás, havia Gilberto Silva. Lateral-esquerdo com passagem por grandes equipes no Brasil, Gabriel também teve participação. Liga conquistada, Copa nas mãos. Ano dourado. Naquele momento, ninguém pensava que tamanho investimento seria julgado anos depois.

Apesar do grande sucesso interno, o apogeu apareceu nas competições europeias. Guiado pelo astro francês, o Panathinaikos surpreendia chegando às quartas de finais da Liga Europa. Entre o percurso, duas vitórias fantásticas de virada contra a gigante e favorita Roma nas oitavas. Em pleno Estádio Olímpico lotado, Cissé marcaria duas vezes e selaria uma vitória para a eternidade do Pana. De azarão eliminando o favorito, a favorito eliminado na fase seguinte para o Standard Liége de Witsel e Jovanovic. O caminho continental foi interrompido, mas os duelos com a Roma continuam sendo alvos de cliques de nostalgia no youtube.


Caso faltassem frases, adjetivos, fatos e números para defender que o investimento do Panathinaikos em Cissé já não tinha valido a pena, não faltaram mais quando, após o final da temporada, o atacante teve seu nome na lista final da França que disputaria a Copa do Mundo de 2010. Após ter quebrado a perna de forma trágica em um amistoso que não valia nada nas prévias da Copa de 2006, Cissé voltaria a jogar uma Copa do Mundo [atuou muito jovem na de 2002]. Jogando na Grécia, jogando no Panathinaikos. Feito incrível para ele e de orgulho maior ainda para os torcedores fanáticos que viviam tempos de ter seu próprio Hércules.

Diante de um ano mágico, ida a Copa do Mundo por uma grande Seleção, era uma suposição normal que Cissé abandonasse Atenas para voltar a uma grande liga. Outra vez contra as possibilidades mais óbvias, ele permaneceu nos gramados gregos. Sua influência, tão grande, fez os cartolas do Panathinaikos abrirem ainda mais o bolso e outros franceses de fama reconhecida desembarcarem no clube. Ex-Juventus e com presença comum na Seleção Francesa, o zagueiro Boumsong chegou junto a Damien Plessis, meio-campista emprestado pelo Liverpool e tratado como jogador de grande projeção. Para fechar o trio de reforços franceses, nada mais nada menos que Sidney Govou. Titular do Lyon semifinalista da Champions meses antes e atleta de Seleção, o ponta tinha muitas opções, mas acabaria sendo convencido pelo alto salário e os telefonemas de Cissé. Novamente, o aeroporto ateniense lotaria pare recepcionar um astro do país de Napoleão.

Ex-Barcelona, Liverpool e Atlético de Madrid, outro jogador veloz pelos lados do campo chegou para findar o ciclo de um mercado poderoso. Luís García não era francês, mas havia conquistado a Champions de 2005 com Cissé - que parecia ser o cara que escolhia os nomes para reforçar o time que defendia. Govou de um lado, Luis García do outro, Cissé no centro. Parecia um sonho para os torcedores do Pana que viviam como se estivessem jogando Football Manager sentados nas arquibancadas. Tudo parecia perfeito, até a bola rolar e o futebol ser o que tanto se ama: um esporte imprevisível e sem ciência exata. O sucesso da temporada anterior com um time no papel bem inferior não foi nem de perto repetido.

Comandado por Jesualdo Ferreira, hoje no Santos, e que tinha como preparador de goleiros Nuno Espírito Santo, um dos técnicos europeus mais valorizados do futebol atual, o Panathinaikos colecionou fracassos. Eliminação na Copa, lanterna no grupo da Champions em que era o favorito a passar em segundo com o Barcelona em detrimento a Rubin Kazan e Kobenhavn. Os dinamarqueses eram os patinhos feios e foram às oitavas com folga dentro da chave. Para fechar um ano de infelicidades, 10 pontos a menos que o rival Olympiacos na Liga Grega e sonho do bicampeonato demolido de uma forma lentamente dolorida. Juntos, as estrelas Govou e Luís Garcia fizeram quatro gols - dois de cada em uma temporada completa. Sendo os grandes símbolos de um estrondoso baque.

Govou foi contratado para fazer grande dupla com Cissé, mas acabou decepcionando e colecionando alegações de 'excessos' na noite de Atenas. (Divulgação de foto: PAO)

Diferente de seus amigos pessoais, Cissé continuou a ser o grande nome que novamente correspondia. Fez 24 gols em 39 partidas. Pela segunda vez seguida conquistou a artilharia da Super League com diferença de 10 tentos para o vice-goleador. Na ocasião, o belga Kelvin Mirallas. Fez outro ano encantador, mas daquela vez sem a ajuda de seus companheiros. No dia 25 de maio de 2011 entrou em campo pela última vez no clássico decisivo contra o AEK. Fora de casa, o Panathinaikos precisava vencer o rival para ter o consolo de classificar-se às fases preliminares da Champions. Venceu por 2 a 0. Dois gols de Dijibril Cissé, que com a braçadeira de capitão e a camisa 9 pôde, pela última vez, saudar seus súditos fanáticos.




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